segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

"...debaixo das gaivotas"

Aquele que não tem com o que comprar uma ilha.
Aquele que espera a rainha de sabá na frente de um cinema.
Aquele que rasga de raiva e desespero sua última camisa.
Aquele que esconde um dobrão de ouro no sapato furado.
Aquele que olha nos olhos duros do chantagista.
Aquele que range os dentes nos carrocéis.
Aquele que derrama vinho rubro na cama sórdida.
Aquele que toca fogo em cartas e fotografias.
Aquele que vive sentado nas docas debaixo das gaivotas.
Aquele que alimenta os esquilos.
quele que não tem um centavo.
Aquele que observa.
Aquele que dá socos na parede.
Aquele que grita.
Aquele que bebe.
Aquele que não faz nada.

Antes um qualquer, agora aquele que o

...inimigo debruçado sobre o balcão
Na cama em cima do armário
No chão por toda parte
Agachado
Olhos fixos em mim
Meu irmão

(Hotel Fraternité - Arnaldo Antunes, sobre o poema de Hans Magnus Enzensberger traduzido por Aldo Fortes)

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